Desistir é tão fácil que deixa de ser interessante, de tão banal que é.


As pessoas desistem facilmente de tudo. À mínima dificuldade e contrariedade, desistem. Seja no trabalho ou nas relações interpessoais. Estão habituadas a terem tudo de mão beijada e à sua maneira. Estão habituadas a terem alguém que lhes faça as vontades todas. Estão habituadas a delegarem, a imporem, a viverem conforme as regras que estabelecem para si e caem no erro de querer que o outro viva sob as mesmas regras. 
As pessoas reagem exageradamente a situações do dia a dia. Não estão habituadas a perderem, a fracassarem, a terem de recomeçar do zero, a saberem lidar com a frustração. Esperam dos outros aquilo que elas próprias não praticam. São rápidas no julgamento daquilo que o outro faz ou deixa de fazer, em vez de tentarem perceber as suas razões ou de ajudá-lo no percurso. Como mudar alguma coisa dá trabalho e exige esforço, é mais fácil desistirem e deixarem de se importar.
As pessoas deixam de investir em algo que exija compromisso, seja porque alimentam a ideia de que, mais cedo ou mais tarde, irão sofrer, seja porque não estão preparadas para uma mudança que possa exigir alterações de padrões de vida e de formas de pensar. A mudança assusta, o desconhecido assusta ainda mais. Acreditam que escolher caminhos que exijam mais dedicação e autodescoberta devem ser evitados até se ter "certeza absoluta", como se a certeza fosse uma espécie de milagre divino que, de repente, nos invade e nos torne mais sábios e maduros! Sabedoria é saber que não estamos preparados para nada mas vamos aprendendo a estar, dia após dia. Sabedoria é saber que, ao longo da nossa vida, as certezas vão mudar, e devemos estar preparados para tomar decisões que não destruam o nosso bem-estar. Maturidade é saber estar na vida, consciente do seu próprio valor e do valor de quem nos rodeia. Certeza é um construto social internalizado que nos dá uma falsa sensação de segurança. Mas, sabemos que a única certeza que temos é a da nossa finitude, tudo o resto é dinâmico. Costumo dizer que enquanto houver certeza em nós, haverá SEMPRE espaço para todas as dúvidas!

Escolher um caminho é difícil, porque pode não nos levar a lado nenhum. Mas isso é uma ideia errada. Podemos não chegar ao final pretendido, mas ele NUNCA é infrutífero. Com medo do sofrimento, as pessoas percorrem vários trilhos simultâneos, não dedicando plena atenção a nenhum deles. A determinada altura percebem que os mesmos erros se repetem, os mesmos padrões se sucedem e, por isso, acham que a vida está a ser injusta, encarnam o papel de vítima, e desistem. Isto demonstra que não é o caminho, por si só, que nos vai levar onde queremos. É, sim, a forma de caminhar.  
Enquanto continuarmos num caminho que julgamos seguro, mas que nos mantém aprisionados e perdidos dentro de nós próprios, não vamos a lado nenhum. Não em quilómetros, mas em sabedoria, claro está.
Desistir de tudo é tão fácil que deixa de ser interessante, de tão banal que é.

© Laura Alho

Comentários

Unknown disse…
Adoro! Impele-me a continuar e não desistir.

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