Até para o ano, Pai Natal.
Agora que o Natal termina, sou invadida por uma certa
nostalgia. Os dias que antecedem o Natal são demasiado agitados para se poder
usufruir de dois dias que passam a correr, sem a nossa permissão. A saudade de
quem tem que partir já está crivada no peito.
O Natal é um estado de espírito. É o aconchego de estar
rodeada de pessoas onde o amor incondicional é a fonte de energia e de ligação
entre todos. É a chuva a cair ou o frio deixado à entrada da porta, porque
dentro de casa só há calor. É a mesa farta ou parca, mas cheia de carinho na
confeção do que foi possível elaborar. O Natal é a troca de olhares cúmplices e de
sorrisos abertos e genuínos. É a brincadeira pegada e a recordação de memórias,
umas recentes, outras mais longínquas, provocadas por um aroma particular ou
por uma lembrança inusitada. É a alegria saltitante no coração, expressa em
afetos. É a lágrima e o sorriso carinhoso ao recordar quem já partiu. O Natal é
comer o arroz doce e os folhados da mãe. É a apreciação de quem somos, de quem
nos tornámos e de quem está ao nosso lado sempre. É o reencontro de pessoas
que, passe o tempo que passar, estão dentro de nós. É a visita às pessoas mais
queridas e insubstituíveis, levando miminhos pensados com carinho – coisas simbólicas, mas que expressam
algo tão poderoso como “lembrei-me de ti” ou "és-me importante". É o amor e a generosidade de uma
criança que nos faz perceber o quão importante somos, através de um simples
encostar de corações. É o viver tão intensamente o momento que não há espaço para selfies, tecnologias ou distrações. É o jogar às cartas, jogos de tabuleiro, e as conversas paralelas e as televisões em silêncio.
O Natal é o Pai Natal, improvisado na hora, cuja fatiota
está sempre guardada, a bater à porta e a exclamar o seu “Ho! Ho! Ho!”,
perpetuando a crença de meninice de que o Pai Natal realmente existe. E eu acho
que enquanto houver magia dentro dos nossos corações, haverá sempre Pai Natal.
Obrigada a todos os que fizeram do meu Natal, dias de
brilho, emoções, afetos e doação. Obrigada a todos os que, nos momentos partilhados, fizeram com o que o relógio parasse e só existíssemos nós. No centro do mundo, a doar tempo uns aos outros.
Não me permitam tornar-me adulta. Quero permanecer criança e
continuar a acreditar que não há impossíveis. Quero continuar a ter o mesmo sorriso parvo de cada vez que o Pai Natal vai para a casa de banho vestir-se e sai pela janela. Quero continuar a cantar, a brincar e a esquecer-me que cresci. Tenho tempo para isso nos restantes dias do ano.
Podes trazer-me o mesmo de sempre.
© Laura Alho
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