Pedro e Tartan


Meus amigos: estou viva!
O calor chegou e com ele a dormência dos (meus) sentidos.
Para vos provar que estou bem e de volta, aqui fica mais um texto inspirado. Aviso que é longo e que é necessária alguma capacidade de entendimento. Muitas mensagens foram subentendidas propositadamente.
Até breve! :)
* * *

Pedro era um garoto rebelde e curioso o suficiente para os seus 8 anos completos. Brincava sozinho, nunca alinhava em aventuras com os seus colegas e apreciava a vida campestre mais do que ninguém. Passava horas a fio junto ao rio que circundava a quinta onde vivia. Era lá onde costumava dormir a sesta.
Certo dia, porém, algo mágico aconteceu. Junto à árvore onde ele se refastelava, estava uma criatura que não devia ter mais do que 30 centímetros.
Pedro, deveras admirado, aproximou-se mais. Ouviu um ruído vindo de trás e voltou-se, com os sentidos bem acordados, à espera de um novo movimento.
Nada.
Quando voltou a olhar para a árvore, a criatura já não se encontrava lá. Deitou-se, como habitualmente, e fechou os olhos. Havia qualquer coisa no ar, ele sentia-o. O cheiro a verde, a madeira e a jasmim tinha sido substituído por uma essência doce: rosas. O cheiro era inebriante e à medida que se intensificava, Pedro ficava cada vez com mais sono. Até que adormeceu.

Quando (julgou) ter aberto os olhos, estava num mundo completamente diferente. Era noite, estava uma brisa fresca e não havia casas nem ninguém por perto. A árvore tinha desaparecido, assim como o rio, os animais, as flores. Esfregou os olhos, como se isso pudesse acordá-lo do sonho provável que estava a ter.
Nada.
- Ei tu. Vais sair do meu caminho ou tenho de passar por cima de ti?
Pedro olhou à sua volta. Não havia ninguém.
- Aqui em baixo, pá!
O espanto foi tal que Pedro só conseguiu emitir um Ohh! abafado.
Era uma tartaruga que estava a falar com ele. Como era possível?!
- Mas tu... falas?!
- Não, é o fantasma da ópera, se calhar! Claro que falo, pá. És um miúdo estranho. E então? Vais sair do meu caminho ou não?
Pedro olhou uma vez mais à sua volta, assimilando a nova realidade.
- Hello!!! Estou a falar contigo!
- És chata, tartaruga. Onde é que eu estou?
- Em Nocturn. E eu sou um macho, muito macho! Tartan, muito prazer.
- Eu sou o Pedro. Não sei como vim aqui parar... Nocturn? Nunca ouvi em tal coisa.
- Chama-se Nocturn porque aqui é sempre noite.
- Sempre? Deve se muito monótono!
- Ouve, miúdo. Preciso de continuar o meu caminho. Sais ou não?
- Porque não passas à volta?
- Estás a brincar? Não vês que ia demorar muito mais tempo?
- Então mas eu não me apetece sair daqui.
- Custa-te muito? Anda lá, meu! Baza daí.
- Não.
Pedro estava agora a meter-se com Tartan. Aquilo era tudo muito estranho.
- Está decidido então. Vou passar por cima de ti.
- Conversa! Se passares por cima de mim vais cansar-te muito mais.
Por esta e que Tartan não estava à espera. Resultava sempre com os outros.
Mas Pedro era especial. Via-o agora.
- Tens razão. É que estou demasiado velho para andar às voltas.
- E onde queres ir?
- Para a Terra. Vacton, o rei de Nocturn, disse-me que para regressar onde pertenço, tenho de dar três voltas e meia a Nocturn. Já vou na segunda. Mas isto é enorme. Já nem tenho noção de quanto tempo gastei até agora.
- Mas como vieste aqui parar?
- Não sei. Só me lembro de ver uma criatura envolta em pós mágicos e de adormecer. Acordei aqui.
- Ei! Eu também vi essa criatura! - disse pedro, alarmado. - Eu quero ir para casa outra vez! Onde está esse rei?
- Vacton não se mostra a toda a gente. O objectivo dele é povoar este planeta. Então rouba seres vivos a outros planetas.
- Isso é horrível. Exijo falar com Vacton! Leva-me até ele. - Pedro pegou em Tartan. - Anda, eu levo-te.
- Ei, põe-me no chão! Eu tenho medo das alturas.
- Não sejas medricas. Não és tu que te queixas do cansaço? Então aproveita a boleia.
- Ok. Mas vai vai devagar!
Pedro e Tartan vaguearam por Nocturn. Ao fim de algum tempo, desistiram da sua demanda por Vecton.
O tempo passava sem que eles tivesse noção disso. A noite enganava os sentidos e todas as noções adquiridas na Terra eram supérfluas e sem sentido.
Pedro sentiu uma pontada de saudade. Queria voltar.
- Há outra maneira de saires daqui. - Disse Tartan com um ar muito sério e com pena do miúdo.
- Ai sim? Diz-me então!!!
- Há um precipício perto daqui. Atiras-te de lá e vais ter direitinho à Terra.
- E porque nunca te atiraste?
Pausa.
- Porque tenho medo. Sou velho, demasiado lento e prefiro estar vivo em Nocturn do que chegar morto à Terra. Além disso, Vecton prometeu-me fazer-me regressar se desse três voltas e meia ao planeta.
- Ele está a enganar-te.
Pedro pegou em Tartan, uma vez mais, e elevou-o acima da sua cabeça.
- Pára, Pedro. Mete-me no chão!
- Não! Vamos saltar.
- Estás maluco? Vamos morrer.
- Não vamos nada.
- Mete-me IMEDIATAMENTE no chão! É uma ordem! Já!
- Já te disseram que és muito chato?
- E já te disseram que és muito teimoso?
- Por acaso, sim!
Chegaram ao precípicio.
- Bem, isto é mesmo fundo. - Disse Pedro.
- Vamos desistir.
- Não!
Aconchegou Tartan ao seu peito, respirou fundo e atirou-se!
Plof!

Pedro abriu os olhos. Levantou-se muito rapidamente. Olhou em volta.
O rio corria normalmente. Os pássaros chilreavam. A árvore portentosa fazia-lhe sombra e o cheiro a jasmim, verde e madeira inundou-lhe os sentidos.
- Ora, não passou de um sonho! - Disse em voz alta.
Foi então que olhou para o lado e viu uma tartaruga virada ao contrário.
- Tartan?
Nenhuma resposta, pois claro. As tartarugas não falam!
Mesmo assim pegou nela e elevou-a acima da sua cabeça. A tartagura não emitiu nenhum som.
Não era Tartan. Meteu-a no chão e viu a tartaruga retomar a sua marcha lenta, deixando-o para trás.
Encolheu os ombros e voltou a encostar-se à árvore, pensando no sonho que tivera.
- Parecia tão real...
Daquele dia em diante, Pedro começou a prestar mais atenção aos seus sonhos. Eram aventuras que não queria esquecer.

Os sonhos têm algo de mágico. Toda a gente devia saber disso.

Comentários

pikenatonta disse…
Olá! Estou por cá! :)
Adorei ler o texto, muito bonito mesmo...
Uma beijoca bem grande para ti! ***
mixtu disse…
sonho ou realidade... e sim foi mágico e algo me diz que era tartan...
mas eu que não me recordo de sonhos... mas sonho, principalmente acordado...
besitos
b. disse…
acredita que os sonhos são muito "verdadeiros"! acredito no poder deles e nos avisos que nos podem trazer!

um dia, se nos encontrarmos num qualquer café, ainda falamos sobre isso... ;)

beijo
Su(sana) disse…
Descreves tudo tão bem que por momentos imaginei todo o cenário e vivi tudo como o Pedro! * Está tão bem escrito (como sempre).

Um beijo grande! *

[E isso dos sonhos há-de ter muito que se lhe diga!]
Isa e Luis disse…
olá,

gostei muito do texto

acho que este sonho lhe queria dizer algo:))

Um beijo grande

Isa
oh se têm...vamos alocias onde acoradosnão acedemos ligados ao corpo.Bom dia. Bjs e ;)
A verdadeira magia dos sonhos está na forma como os recebemos.

Uns serão apenas sonhos que nos adornam a agrura e dificuldades (inerentes à condição humana) , outros sonhos porém são a verdadeira e genuína energia e luz que nos guia, permitindo vencer e conquistar todos os desafios que um dia nos propusemos.

(...)

Eu sonho !
Minha linda menina, tinha saudades das tua crónicas sempre tão fantásticas e tão humanistas, ainda bem que vieste escrever, eu adoro ler-te, já o fiz há dias só que os comentários não abriam. Beijinhos amiguinha
Nilson Barcelli disse…
O teu conto é fabuloso. A tua imaginação não tem limites...
E, como é usual, a moral da história também está presente.
Mas há velhos com muito maior determinação que os novos...(risos).
De qualquer modo, quem não tiver essa determinação, há-de continuar sempre num mundo irreal, mesmo a sonhar acordado.
Beijinhos.
Alma de Poeta disse…
Resumindo o texto é espectacular e foi com enorme prazer que descobri o teu blog.
Mikas disse…
acredita.. toda a gente mesmo!

beijinho !! *
a magia da noite disse…
Um regresso em força, o calor fez-te bem, espero que as noites calmas te inspirem novas aventuras.

Http://noite.do.sapo.pt
a_mais_linda disse…
muito lindo!!
Oi meu doce anjo,

Fiquei tão feliz ao ver que não me havias esquecido que nem calculas, obrigado, é sempre bom saber que os amigos nunca se esquecem de nós.
Em relação a esta história, nossa AMEI, é linda, fala dos sonhos como realmente eles podem ser lindos e como muitas vezes nós não ligamos a minima importancia aos mesmos, mas nossa este sonho, se tivesse sido realidade, teria sido ainda mais lindo.
ADOREI, está mesmo divino, tens um dom maravilhoso, e agradeço-te por o partilhares connosco, e neste caso em especial comigo.
Obrigado, e continua sempre assim, pois é disto que nós precisamos.
Agora aproveito para te desejar um maravilhoso fim de semana e uma semana ainda mais gostosa e cheia de luz em teu doce coração.
Bjokas mil e xi - corações.
Isa e Luis disse…
Olá menina linda,

voltei a reler:))

Lindo lindo


jinhos fofos

Isa
Estrela do mar disse…
...Catarina...mais um texto muito bem escrito por ti...estava a ver que precisava de um copito de água;)...lol...


Jinhossssssssssss
disse…
mé!
ups!
esqueci-me e agora!
disse…
Gostei do conto, gostei do blog
Oi meu doce anjo,

Cá estou eu novamente para te ver e sentir o doce aroma deste teu belo paraíso.
Vim para te ver, de momento não estavas, mas a bela história de Pedro e Tartan, continua a emocionar-me e em especial hoje que estou um pouco mais sensivel.
Obrigado minha doce amiga.
Quero aproveitar para te desejar um maravilhoso fim de semana e uma semana cheia de luz em teu coração.
Bjokas mil e xi - corações.
Manuel disse…
Olá. Dei por uma espreitadela e vi este teu conto. Muito divertido. Gostei de ler. Quando tiver um neto, vou ler-lho.
Ana Sofia disse…
dsk...tenho andado desaparecida mas voltei p te ler e fikei contente ao ler os teus textos...ja tinha saudades...beijinho grande

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