Amor-próprio: a força inesgotável que existe dentro de nós


Certo dia parti, desorientada, à procura de mim própria. Deambulei em busca daquilo que restava de mim. Procurei-me em todos os rostos com quem me cruzei, na esperança de um deles ser o meu ou de me fazer lembrar de quem fui um dia. Procurei-me no silêncio das noites, cada uma mais longa do que a outra. Procurei-me num espaço que parecia vácuo e num tempo que não parecia o meu. Procurei-me sem me achar durante muito tempo.
Revisitei lugares, outrora coloridos. Refugiei-me nas memórias tentando estendê-las até ao momento presente. Como se fossem elásticas e as pudesse esticar, misturando-as com a nova realidade, mais crua e dolorosa. Escondi-me nos sentimentos bem preservados e, mais tarde, libertos. Vasculhei-me, com a incerteza de que iria encontrar alguma coisa que me fizesse (querer) sentir viva. Encontrei um coração minguado, sofrido e lesionado. Mas palpitante. Havia esperança de recuperação, embora desconhecesse que receita milagrosa iria trazer-me de volta.
Descobri que há um lugar-comum onde todos vamos buscar força quando dela necessitamos: dentro de nós. Num qualquer espaço indistinto, mas nosso, existe uma força motriz, chamada de amor-próprio e que pode operar verdadeiros milagres.
Amarmo-nos é um bem essencial e um sinal de inteligência. Se estamos bem connosco, estamos bem com o mundo e a vida corre de feição. Se tivermos noção do nosso valor, tudo é possível - os medos tornam-se risos, os impossíveis tornam-se desafios, os fracassos tornam-se oportunidades. O amor-próprio é o alimento da nossa existência. Com ele, somos pessoas seguras, confiantes e melhores companhias. Conseguimos dar-nos aos outros sem expectativas fúteis e reservas infundadas. O amor-próprio é o bálsamo intemporal que cura as feridas mais profundas, quando todos os outros remédios são ineficazes. É o sopro de vida, quando tudo o resto parece abandonar-nos. É a varinha de condão que lança os seus pozinhos de perlimpimpim que amaciam o coração. Sem ele, a vida é simplesmente miserável, insípida e despropositada.
Nessa minha demanda desenfreada, acabei por me encontrar.
Acabo sempre por me encontrar. O ciclo repete-se, vezes sem conta. Apenas difere na duração: quanto mais experiente me torno, menos tempo permaneço inerte. Mas encontro-me sempre do mesmo jeito: aninhada sobre mim própria. Deixo-me estar até sentir que as lágrimas secaram e que a tristeza chegou ao limite da sua existência. E é, então, que sinto um conforto interior envolvente. Uma energia incrivelmente reconfortante que me fez lavar o rosto e voltar a reerguer-me. Uma força interior nasce, abrupta, fazendo com que as cicatrizes sejam apenas um sinal de que me libertei da dor. Até ao próximo tropeção.
Amarmo-nos é sairmos da gaiola e da zona de conforto, certos de que merecemos o melhor que a vida pode oferecer. Ainda que sejam apenas momentos, pelo menos que sejam eternos enquanto duram. E enquanto nos amarmos, tudo são pedaços de céu.

© Laura Alho

Comentários

Mensagens populares