Falta-nos poesia dentro de nós!



As pessoas precisam de poesia dentro delas. De versos soltos e rimas improvisadas. Da delicadeza e da sensibilidade das palavras doces e cadenciadas. Da inspiração extasiante de estrofes imperfeitamente bonitas.

Precisam urgentemente de flores e mar dentro delas. Precisam de um bálsamo que cuide das suas feridas.

Algumas pessoas magoam e depois agem como se tivesse sido o outro a magoá-las ou a desencadear o processo disruptivo. A atribuição da responsabilidade e a ausência de um pedido de desculpa genuíno é um processo simples e inequívoco para um conjunto de seres intelectualmente estéreis ou emocionalmente fragilizados.

Outras parecem estar na nossa vida sem estarem verdadeiramente. Estão ali, de corpo, sem alma. Estão presentes em isolamento, mas ausentes na multidão. Estão no mesmo espaço físico, mas em dissintonia no resto. É a prova irrefutável de que estar acompanhado não garante companhia.

Há quem tenha respostas estandardizadas na ponta da língua e ressalte a moralidade, sem verdadeiramente acreditar nela ou se dignar a praticá-la. Mas o julgamento, esse fiel companheiro, está ali, pronto a espetar o seu ferrão em todas as oportunidades, numa altivez empoderada e balofa.

Existem, também, aquelas pessoas que foram tão escravizadas pela vida, que se enfiaram numa redoma onde nada penetra. Uma espécie de bunker emocional que as impede de viver e sentir a alegria de viver. Simplesmente contrariam tudo, porque é a única forma de expressarem a sua dor ou de emitirem um pedido de ajuda dissimulado.

Temos, ainda, as pessoas que são aparentemente ingénuas e acreditam em contos de fadas e em mudanças incríveis, em prol de um amor que só existe num lugar: nas suas cabeças. Uma espécie de história de encantar na vida real que não passa de uma ilusão que insistem em manter, quando tudo aponta para o desfecho contrário. Diz-se que quem tem um passado manchado, terá um futuro semelhante. Mas há quem acredite no oposto. Vivem com filtros que omitem as impurezas e adiam um sofrimento inevitável, já estando embrenhadas nele.

E aquelas pessoas que passam a vida a remoer o que os outros fazem? Têm resposta para tudo e são capazes de elaborar contos e boatos, e de criticar cada passo do que o outro faz. Tecem comentários ardilosos e tentam manchar o sucesso dos outros, porque eles próprios não o atingiram. Uma espécie de inveja camuflada, expressa apenas por meios contaminados. São as mentes viperinas que revelam insegurança e nada mais, mas cujos efeitos podem ser incomodativos.

Tanta mágoa, tanta tristeza, tanta desesperança!

Precisamos urgentemente de poesia dentro de nós! Não aquela poesia barata e ostensiva, mas sim, a mais simples, genuína, bacoca. A que faz sorrir e deixa os olhos brilhantes. A que faz soltar gargalhadas e sentir borboletas no estômago. A que arrebata o peito só com a candura de palavras honestas e sentidas.

Precisamos de limpar o coração e amarmo-nos. De fechar portas e deixar o que não nos faz bem. Precisamos de descobrir que a vida é muito mais do que envolvimentos rasos e pessoas indecisas e sem rumo. É muito mais do que um trabalho chato ou uma experiência negativa.

Falta-nos a poesia que limpa a alma.

Falta-nos flores e mar dentro de nós.

© Laura Alho

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