Às duas da manhã


Ele olhou-me. Foi um daqueles olhares que nos conseguem despir e que alcançam o que de mais profundo há em nós. Um olhar intenso, quente. Demasiadamente quente.
Tentei manter o controlo. Não desviei o olhar. Mantive-o fixo - não sem dificuldade - aos olhos pretos magnéticos que me trespassavam o corpo.
Senti uma onde de calor nascer na barriga. Um formigueiro intenso e simultaneamente agradável que nos dá a sensação de vertigem.
Ali estávamos nós, no mais velho jogo da humanidade: a sedução.
Primeiro uma troca de olhares repletos de interesse, depois uns sorrisos disfarçados para prolongar mais o jogo. E depois os gestos que nos fazem esquecer tudo e todos à nossa volta.
Mexi no cabelo.
Ele meteu o copo à boca, deixando antever uns lábios apetecíveis.
Passei a língua pelos lábios, humedecendo-os.
Ele sorriu, maliciosamente.
Cruzei as pernas e a expressão dele revelou que estava completamente rendido. Mais do que isso, a situação estava a fugir-lhe do controlo.
De novo o formigueiro na barriga.
Puxei o cabelo para trás, revelando o pescoço e um pouco do decote.
Bebi vagarosamente, até sentir a garganta inflamar com o álcool da bebida.
E foi então que ele se aproximou um pouco e me incendiou com aquele olhar provocadoramente intenso.
- A menina dança? - Perguntou.
Assenti. O meu corpo clamava por mais contacto físico.
Durante a dança, o jogo continuou, sem pressas. Apanhei-lhe o olhar no meu decote, por várias vezes. Deixei-o contemplar. Afinal de contas, era um jogo. Enquanto olhas, não tocas.
Por momentos, julguei que as coisas iam ter um final arrebatador. A sedução leva quase sempre a um fim.
A música cessara e ele fixou-me, uma vez mais, dizendo:
- Foi um prazer dançar contigo, Luna.
Uma voz calma, quente, rouca.
Se ele não fosse o meu marido, tinha achado estranho o facto de saber o meu nome.
- O prazer foi todo meu, querido. Vamos?
- Sim. Mas quando chegarmos a casa, quebramos o prometido e acabamos o jogo... - Atiçou.
- Talvez. - Respondi, tentando dominar a situação. - Se te portares bem até lá.
Ele riu-se.

A noite prometia. E ainda só eram duas da manhã.

Comentários

Su(sana) disse…
Está soberba! ;) *
b. disse…
Não deixo de ficar boquiaberto neste canto...
Muita sensualidade aliada a uma excitação de traição, quando na realidade arrefeces os ânimos mas revelas uma intensa provação de que o amor/sexo/paixão/confiança pode nem sempre morrer com o tempo!

Grande Beijo
Caíla disse…
UAU;;; JOGOS NEM SEMPRE PERIGOSOS... UM ABRAÇO E BELA ESCRITA
Mikas disse…
Espectacular!! =)*
Oi meu anjo,

Adorei, desta acho que superas-te.
Te desejo um maravilhoso fim de semana e uma semana cheia de luz.
Bjokas e xi - corações.
Caíla disse…
Passando para desejar um final de semana bastante agradável! Uma abração carinhoso!
Estrela do mar disse…
...hummmmmmmmm...;);)...



Jinhosssssssss
Dad disse…
Gostei muito Cakau! A história está interessante em todos os sentidos.
Um beijinho para ti e que esse paraíso continue...
Cakau,

Se for possível transpor para a realidade todas as pinceladas desta ficção , e preencher a tela com esta magia, encantamento e simplicidade então eu quero !!!

Onde está o problema ? Where is the trouble ? US . Nós.

Que temos a vaidade/mania de complicar o que é simples .

Gosto de ler-te assim : simples, pura e genuína .

Continuas a ser uma das minhas heroínas!

Hoje um abraço fraterno, amanhã...também !!!
Anónimo disse…
Gostei imenso...
Acho que essas cenas se deviam passar em todos os casamentos!

Beijocas grandes e bom domingo!

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