"Obrigado": o substantivo mais poderoso do nosso vocabulário.



Ditam as regras da boa educação que devemos sempre agradecer a outra pessoa quando nos é dirigido um elogio ou quando nos é oferecido alguma coisa de bom grado, mesmo que não gostemos do que nos é ofertado. Enquanto crianças, engolimos em seco a desilusão e sentimos o ligeiro beliscão no nosso braço, sinal de que está na hora de esboçarmos um sorriso amarelo e mostrarmos que os nossos pais nos educaram bem. Já em adultos, a coisa torna-se mais fácil, embora não menos constrangedora. Mas o cerne da questão é o ato de agradecer por uma ação/ atitude que nos foi dirigida. Isso significa que alguém pensou em nós. Dar é uma atitude maravilhosa, mas saber receber também o deve ser. E, por vezes, somos ingratos nesse receber. 

Com a automatização das nossas vidas (sim, porque a determinada altura tornamo-nos autómatos, escravos das rotinas e do tempo), facilmente nos esquecemos do poder das palavras. Usamo-las porque são instrumentais e nos permitem comunicar com os outros e ter aquilo que queremos, mas renegamos o seu verdadeiro sentido. Dizer um “obrigado” automático é melhor do que não dizê-lo, mas seria muito mais poderoso se realmente o sentíssemos. 

Dei por mim, há dias, a refletir nisso porque tive a consciência de que não estava a sentir o que estava a dizer. Estava tão concentrada nos meus problemazinhos mundanos que não estava a dar espaço para coisas boas se manifestarem. E isto fez-me parar um pouco e dedicar algum tempo a ouvir-me e a ouvir para além de mim. Ouvi o mundo, se é que isto vos faz algum sentido (para mim fez!).
 A poluição sonora que faz parte das nossas vidas impede-nos de dar o devido valor às pequenas coisas. Precisamos de usar filtros para conseguirmos manter-nos mentalmente sãos, com tantos requisitos e exigências. 

Precisamos de ter tempo para dar valor a coisas aparentemente insignificantes mas que, na verdade, se não fossem elas, não sorriríamos tantas vezes. Precisamos de agradecer mais pelo que nos acontece nas nossas vidas e pelas pessoas que temos nelas. Além de um círculo restrito que constitui a nossa muralha protetora e o nosso berço de conforto, também temos outras pessoas que, de alguma forma, fazem parte do nosso percurso. Podem ser amigos, conhecidos, colegas ou simplesmente pessoas que conhecem o nosso trabalho. Todos, quando se aproximam sem intencionalidades dúbias, acabam por tornar alguns eventos ou alguns dias muito mais aprazíveis. 

 Apesar de até termos vidas satisfatórias e de haver inúmeras coisas pelas quais devemos agradecer diariamente, acabamos por cair num de três erros (se não mesmo nos três): tornamo-nos vítimas de nós próprios, caindo numa autocomiseração desesperante e cega; reclamamos da vida mas nada fazemos para mudá-la; ou damos tudo como garantido e, por essa razão, não atribuímos o real valor ao que temos. Em nenhum caso estamos a fazer alguma coisa saudável por (e para) nós. E certamente em nenhuma destas situações estamos a ser gratos pela oportunidade que temos de viver. 

Estudos demonstram que a gratidão tem o poder de recuperar e manter a saúde física e mental, além de atenuar os sentimentos negativos que temos em relação a nós próprios. Se conseguirmos agradecer e sentirmo-nos bem com isso, conseguimos mudar as circunstâncias da vida, pois a nossa visão sobre o mundo altera-se. Passamos a ver as situações de maneira mais positiva, além de que aprimoramos a nossa intuição e percebemos o quão protegidos e ajudados somos ao longo da vida (às vezes, por quem menos esperamos!). 

Saber agradecer é ter um poder ilimitado. Sonhamos encontrar um génio da lâmpada que nos conceda três desejos, quando temos ao nosso dispor uma palavra mágica, que não sendo “abracadabra”, nos abre tantas portas e nos proporciona tanto bem-estar. Obrigado é o substantivo mais poderoso do nosso vocabulário. Mais importante do que dizê-lo, é senti-lo verdadeiramente. Façamos da gratidão um hábito. 

A magia acontece quando existe consonância entre o que pensamos e o que sentimos. O problema é que, algures, no nosso percurso, deixámos de acreditar em magia. E esse é outro erro, porque a magia de outrora tem, nos dias de hoje, outro nome: ciência.

© Laura Alho

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