Amor perfeito vs. Amor verdadeiro




Se estás à espera de encontrar o amor perfeito, espera à frente da televisão, com um balde de pipocas e dez temporadas da tua série romântica preferida. Não há essa coisa de pessoas certas ou de metades perfeitas. Não existem guiões de como deve ser o amor, nem de como encontrá-lo. Quanto mais achares que ele te vai cair do céu, embrulhado num laço e sem defeitos, menos noção da realidade tens e mais depressa precisas de sair dessa redoma quadrada. O amor acontece ao virar da esquina.
Na tua demanda por alguém perfeito, irás perceber que as pessoas são frágeis, vulneráveis e inseguras. Muitas vivem de aparências, criam imagens de uma vida inexistente, mostram ser aquilo que não são na realidade. Uma ficção quase normal, porque a sociedade parece viver da ideia de quase perfeição. Esta ideia disseminada é, talvez, o maior cancro da humanidade. Ao insistires nessa procura e ao fazeres parte desse ideal hipotético, acabas por criar um estilo de vida egocêntrico e que te desvia da tua felicidade.
Aprendi que mais importante do que um amor perfeito, é um amor real, verdadeiro. O que te deixa sem controlo sobre ti. O que te faz pensar de outras perspetivas. O que te tira o sono quando está longe, e o que te faz dormir bem quando está contigo. O que te rouba sorrisos sem esforço. O que te faz sentir as pernas trémulas. O que te faz imaginar e querer um novo amanhã. O que te faz perder a noção do tempo e querer continuar a estar na tua companhia. O que te rouba um beijo inesperado. O que abraça e não te quer largar. O que discute contigo mas não fica chateado. O que brinca contigo na cama, no sofá, em público. O que te liga só para saber se estás bem e como correu o dia. O que não se coíbe de mostrar que te ama. O que te faz imaginar um futuro a dois e que não tem medo de falar desse futuro.
O amor real é um amor que assusta porque deixa de ser um encontro de sábado à noite, ou uma queca ocasional, para se tornar em encontros diários e repletos de partilha. É um amor que te mostra que as barreiras que tens no coração são transponíveis e que te vai dar a segurança de algo estável e sereno, ao invés dos casos inúteis que tapam buracos e alimentam uma validação autoimposta. É aquele que te surpreende com planos inesperados, e que te faz sentir feliz sempre que estão juntos, mesmo quando falam de coisas sérias.
Quando encontrares alguém que te aceita tal como és e que compreende os teus defeitos, as tuas proteções, e que está disponível para ajudar-te a superá-las e a tornar-te numa pessoa melhor, terás encontrado o amor verdadeiro. Quando encontrares alguém que passe horas a conversar, a rir, a partilhar contigo o seu dia a dia, mesmo nas coisas mais insignificantes, perceberás que essa pessoa não está só de passagem. Será paciente e ajudar-te-á a curar feridas que julgavas cicatrizadas. Fará com que vejas o presente de forma tranquila e que desejes um futuro cheio de tudo o que mereces. Será aquele que, naturalmente, te fará tomar um rumo diferente, quebrando velhos hábitos do passado.
O amor perfeito não tolera erros nem desvios. É avesso à diversidade e à multiplicidade de comportamentos. Tens de representar exatamente a imagem que a pessoa fez de ti. O amor verdadeiro não é assim, é livre. Não te vai querer aprisionar a padrões de vida nem a comportamentos estandardizados. Vai, antes, querer que sejas a melhor versão de ti próprio(a).
O amor perfeito é egoísta porque só olha para o outro como o instrumento de satisfação das suas próprias necessidades. O amor verdadeiro quer que sejas simplesmente feliz na sua companhia. Não te delega a responsabilidade de teres de fazer o outro feliz. O amor verdadeiro quer o teu bem-estar e está disposto a comprometer-se nessa missão, sem sentir qualquer obrigação de fazê-lo. Enquanto o amor perfeito te incumbe de fazeres a outra pessoa feliz, o amor verdadeiro quer apenas reciprocidade.
O amor perfeito tem planos para ti. Quer-te formatar e tornar-te numa estrela de cinema que pretende exibir ao mundo com orgulho, como se quisesse confirmar o seu poder de conquista de alguém aparentemente maravilhoso e belo. O amor verdadeiro, por seu lado, não tem vergonha de quem és, do que fazes, do que tens. O amor verdadeiro acompanhar-te-á na tua jornada, no teu crescimento, e na realização dos teus sonhos, e ainda fará com que vocês sejam as verdadeiras estrelas cinema. O amor verdadeiro conhece as tuas fragilidades, aponta-as e aceita-as, mas foca-se nas tuas qualidades, nos teus talentos, na forma como te dedicas e como tratas de ambos. Não se intimida pelo que os outros dizem porque sabe que a felicidade de uma relação constrói-se a dois e que deve ser cega e muda aos outros.
Um amor perfeito quer ter sempre momentos de felicidade, exige-os! O amor verdadeiro é desafiador. Vai fazer-te chorar pelas dúvidas, pelas tentativas frustradas e pelas dores dos falhanços conjuntos, porque nenhum dos dois é perfeito. Vai tirar-te horas de sono que serão recuperadas assim que receberes um abraço e uma mensagem carinhosa. 
O amor verdadeiro estará lá nas tuas conquistas, mas também nos momentos de dificuldades. Não abandona o barco na primeira oportunidade, nem na segunda, nem na terceira. Continua no leme, por vezes quase sem força, mas fá-lo porque sente que vale a pena continuar a luta.
Quando encontrares o amor verdadeiro, agarra-o. Não o deixes fugir por medo, por antecipação de problemas, por incompatibilidades, por razão nenhuma. Porque o ser humano tem a capacidade fantástica de se adaptar e de amar sem restrições.
Quando encontrares o amor verdadeiro, deixarás de sentir necessidade de procurar amores perfeitos, porque terás encontrado tudo o que precisas e mereces para ser feliz.

© Laura Alho

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