Ciúmes: picante ou veneno?

Existe uma mania estranha de romantizar os ciúmes. De torná-los uma das maiores provas de amor em relação a alguém. Se sentes ciúmes de alguém, então isso só pode provar que adoras essa pessoa e que ela é tudo para ti, certo? Errado. Ter ciúmes é sentir uma beliscadela no teu amor-próprio, ativando o maior medo do ser humano: a rejeição, o abandono.
Muitas pessoas acham que provocar ciúmes no outro é a forma mais eficaz de obter uma reação, como se fosse uma espécie de picante para a relação, porque mostra ao outro que nada está garantido e que há a possibilidade da perda, se não se cuidar. As pessoas ignoram é que a possibilidade da perda, existe sempre que não há amor. Existindo amor, o cuidar da relação e o ato de valorizar o outro anulam qualquer necessidade de instigar a insegurança a partir dos ciúmes.
Ciúmes não é nenhum picante, é antes um veneno que provoca uma hemorragia interna com efeitos nefastos. Picante é uma noite a dois, uma massagem, um jantar diferente com um gosto afrodisíaco. Isso, sim, torna a relação interessante e promove a proximidade e a intimidade do casal. Provocar ciúmes só faz com que a desconfiança se instale e depois dela instalada, é como um vírus que se alastra. A necessidade de provocar ciúmes no outro, e o sentimento exacerbado do mesmo, revela insegurança e imaturidade relacional.
Ter necessidade de provocar ciúmes é sinal de algo não está bem – na pessoa ou na relação. E isso deve ser resolvido através da forma mais simples possível: comunicação verbal. Não adianta fazer escândalos e ter discussões acesas se não se chegar à raiz do problema. Trata-se de falar sobre as fragilidades de cada um, e da relação, não colocando a culpa em ninguém porque, inevitavelmente, ela recai nos dois. Muitas vezes são as experiências passadas que ambos carregam e que fazem com que a exigência de exclusividade atencional seja maior com o novo parceiro. As falhas anteriores são projetadas na outra pessoa e ela tem a responsabilidade implícita de ser perfeita – o que é uma perfeita idiotice.
Facto é que ninguém é de ninguém, e que não tens controlo sobre o que outro faz. Ou confias ou, quando a pessoa der provas de que não é merecedora da confiança e do amor dedicados, saltas fora. Tentar agarrar a pessoa provocando ciúmes nela, é um sinal vermelho na relação. Não saber lidar com os ciúmes inadvertidamente provocados pelo outro, também é um sinal de alerta.
Quando sentires ciúmes, tenta perceber por que razão estás a tê-los. Se a pessoa que está contigo está a ter comportamentos que consideras excessivos e abusivos, fala com ela. É importante que estabeleçam regras desde o início ou que, pelo menos, ajustem comportamentos de forma a protegerem o outro e a consolidarem a relação.
Os ciúmes não são nenhuma prova de amor. Embora seja natural tê-los, eles podem tornar-se doentios, patológicos. Sentimentos de possessividade, falta de autocontrolo, mudanças de comportamentos, tudo contribui para exacerbar o medo de ser abandonado. A rejeição é uma dor profunda, que pode colocar em causa a estrutura de cada pessoa. A maior arma contra eles é o amor-próprio e a dedicação a uma relação saudável.

© Laura Alho