Quando (te) abraço, expando-me.


Aparentemente não passo de uma insignificância cósmica. Um grão de areia ínfimo nesta maquinaria complexa e divina que me deu vida com propósitos que eu própria desconheço.
Estou dentro de um corpo que não escolhi. Um invólucro frágil e com os dias contados. Uma parte física que me pertence temporariamente e com a qual tenho de ser gentil, porque não tenho outra.
Quantas vezes nos comparamos com os outros e pensamos que a natureza foi injusta? Muitas vezes, provavelmente. Procuramos a admiração e a aprovação dos outros como forma de colmatar inseguranças maltratadas. Esquecemo-nos de nos cuidar e de estarmos gratos pelo que temos, pelo que somos.  As aparências enchem os olhos alheios de orgulho e de admiração, mas não são elas que alimentam relações verdadeiras. Não é a aparência e a beleza exterior que cuida das cicatrizes e faz o coração transbordar de um amor imensurável... Este nosso invólucro perde qualidade e beleza a cada dia que passa.  Cuidemos dele mas não o sobrevalorizemos.
Não, a natureza não foi injusta. Os nossos olhos é que ficaram cegos ao que realmente importa. Algures no nosso percurso, perdeu-se a clarividência.
Aprendi que há apenas uma forma de o meu universo se expandir: amar com todo o coração cada pessoa que entra na minha vida. Deixar de lado o medo do desconhecido e simplesmente precipitar-me para um abismo onde, sei, encontrarei outros braços, que me acolherão graciosamente. Uns mais fortes, outros mais fofos. Uns mais curtos, outros mais compridos. Uns masculinos, outros femininos. Outros felpudos e peludos. Mas todos eles com algo em comum: firmes na hora de (me) envolverem, determinados no carinho e no propósito. Porque se assim não forem, não serão reais.
Gosto de abraçar. Faço-o com quem tenho algum tipo de afinidade. Faço-o de forma gratuita e com todo o afeto do mundo.  Há abraços de todas as formas, cores e cheiros. Gosto de todos. Mas há uns que me fazem ter arrepios na nuca e me enchem o peito de algo indefinível - são os que apertam com suavidade e me fazem fechar os olhos - como se, naquele momento, fôssemos um só. São aqueles em que, momentaneamente, tudo o resto deixa de existir. São os abraços que se diferenciam de todos os outros.
São os teus (a)braços. Os (meus) preferidos.
E de cada vez que o faço, sinto o universo dentro de mim. E quanto mais sentidos são os (nossos) abraços, mais preciosos se tornam.
Quanto mais genuínos forem os (teus) abraços, mais me deixo estar neles. Quanto mais quentes forem os (teus) abraços, mais tempo permanecerei neles. Quanto mais emoções notar nos (teus) abraços, mais os desejarei.
Porque, de cada vez que (te) abraço, os meus olhos fecham-se. De cada vez que (te) abraço, tudo o resto perde a importância.

Porque, quando (te) abraço, expando-me.

© Laura Alho

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