As máscaras do Ego


Dizem que a vida são dois segundos. Em boa verdade, se atendermos à esperança média de vida atual (que ronda os 80 anos), a nossa existência é traduzida em 2,524,556,160 segundos. Se esquecermos as casas decimais, então temos efetivamente ali um “2”. E durante esse tempo, não vivemos realmente: passamos a nossa existência a tentar aprender a viver e não passamos do papel de meros aprendizes.

Há anos que travo uma luta contra o Ego. É paradoxal porque, o Ego é aquilo que, em larga medida, me permite existir nesta dimensão física. Sem ele, nunca experimentaria a sensação de ser uma pessoa, de conhecer outras, de me relacionar, de sentir, etc.. A ilusão do Ego é necessária por forma a que qualquer um de nós possa participar neste jogo chamado “vida”. É claro que embora o queira matar (às vezes), tenho que reconhecer que, sem ele, eu não existiria desta forma. A coisa torna-se ainda mais complexa quando me apercebo que não posso matar algo que não é real. O simples desejo de querer livrar-me dele está alicerçado na ideia de que estou a livrar-me de algo que realmente existe.

Tecnicamente o Ego não existe porque é completamente dependente das nossas crenças. Se por um lado o Ego é necessário para que possamos participar na vida, por outro lado, também causa sofrimento. Faz-nos acreditar em ideias sobre nós e sobre os outros que não são verdadeiras e que limitam a nossa experiência no mundo. Alimenta os nossos medos, as nossas queixas, as preocupações e os problemas diários. Então, como matar algo que nos faz pensar em coisas que não são reais e que nos criam limites que não existem? As premissas lógicas afloram-me:
 * Os limites e as crenças não existem.
 * O ego alimenta a existência de limites e crenças.
 * Logo, limites, crenças e ego não existem.

 As pessoas perdem anos a acreditarem em histórias sobre uma realidade subjetiva para, mais tarde, descobrirem que era tudo mentira. Nós podemos decidir acreditar ou não numa determinada história criada na nossa mente, ou podemos reescrevê-la quando nos apetecer. Mas o Ego não quer isso. Ele mascara-se do que for preciso para nos ludibriar. Encarna “amigos imaginários” e faz-nos cair em armadilhas. Reprime as vontades (in)conscientes, recorre a artimanhas inteligentes e leva-nos a pensar que nós somos simplesmente o nosso Ego. Mas, na realidade, somos a “consciência” que está por trás desses pensamentos e ideias. Os sistemas de crenças que alimentamos ao longo da vida (pela socialização, modelação, imitação, cultura) impedem-nos de viver e fazem-nos sofrer numa escala desmedida e absolutamente desnecessária. As máscaras do Ego condicionam a nossa existência.

2,524,556,160 segundos. Não obstante a ideia imediata que temos quando olhamos para a extensão deste número, fazendo-nos crer que se trata de muito tempo, a verdade é que passa num instante. E nesse instante, tudo acontece.

© Laura Alho

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