O sopro do Universo. [Não me deixes fugir].



Agarra-me! Agarra-me e não me deixes fugir! Não me deixes escapar. Não me deixes evadir, porque depois não há retorno. Corro e sigo caminho, não olho para trás. Prende-me enquanto sou livre. Cativa-me enquanto podes. Agarra-me agora, com vontade, e serei tua. Senão não serei de ninguém até voltar a querer.
Abraça-me! Mete a mão na minha nuca e puxa-me para ti. Envolve-me nos teus braços enquanto te envolvo nos meus. Nesse instante, os corações batem em uníssono. Encontram-se e sintonizam-se. A respiração abranda. Os dedos acariciam a pele. As mãos deslizam pelas costas e voltam ao pescoço, onde depositamos um beijo. Nesse instante, o mundo deixa de girar. O tempo deixa de existir. Dentro de um abraço - do nosso abraço - cabe tudo. Sem ele, tudo é um vazio que ocupa demasiado espaço dentro de mim.
Beija-me! Deixa que as tuas mãos me segurem carinhosamente o rosto, enquanto os olhos vêem para além do corpo, numa espécie de desejo em conhecer todo o universo num só momento. Aproxima-te devagar até os nossos olhos fecharem e os nossos lábios se tocarem. Primeiro, suavemente, como quem está a explorar algo delicado e frágil, com todas as diligências possíveis. Deixemos que se saboreiem e se conheçam sem reservas. Depois, deixemo-los ganhar o seu ritmo próprio, deixando de ser beijos inocentes para se tornarem molhados, intensos e insaciados. São beijos que nos roubam a calma.
Toca-me! Percorre-me com os teus dedos, com as tuas mãos. A pele arrepia-se num ato reflexo. Os pelos eriçam-se, como que a levantar armas e a edificar defesas contra um potencial perigo, para logo a seguir se acalmarem e regressarem ao seu estado de repouso. Não há nenhuma ameaça, apenas estímulos. Os olhos reviram-se e voltam a cerrar. Memorizam imagens, criam outras. Deixam que os outros sentidos sejam explorados.
Ouve o roçar das nossas peles de encontro uma à outra. Ouve as nossas salivas, que se misturam, em alquimia perfeita. Ouve os nossos gemidos que quebram o silêncio e desencadeiam prazeres inefáveis e despoletam vontades de corpos sedentos um do outro. Todas as células estão bem despertas e atentas. A qualquer momento, sentiremos o sopro do universo, uma microexplosão cósmica que ocorre dentro dos nossos corpos, em uníssono. Embrenhados num espaço sem tempo definido e num momento que não pertence a mais ninguém, faz-me tua. Também serás meu. Ainda que não nos pertençamos, somos um do outro, neste agora que se quer perpetuar indefinidamente. O eterno só dura um momento. E cada momento só é eterno enquanto tivermos memória. Restar-nos-ão algumas memórias futuras? Este foi o primeiro sopro do universo em nós. Desta vez não quero partir. Mas sinto que devo fugir. Não me deixes! Mas não te demores porque, enquanto isso, sigo caminho. Sigo em frente.

© Laura Alho

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