Do teu coração.
Bem lá no
fundo tu sabes o que é melhor para ti e sabes que mereces o melhor do mundo, mas
não sabes ainda, ao certo, o que isso significa. Bem lá no fundo sabes que
romantizas as pessoas e que acreditas em contos de fadas quando a maior parte
do mundo te prova o contrário. Recusas-te a aceitar a realidade tal como ela é –
ainda que trabalhes nela, sobre ela e contra ela –, porque isso seria aceitar a
desilusão de não entenderes por que razão existes, se não for para seres feliz.
Queres
acreditar que sentimentos e elos verdadeiros são para toda a vida, mas sabes
que, por si só, não chegam. Ainda assim, acreditas.
Desejas que
a felicidade seja muito mais que uns míseros momentos de sintonia, divididos
por todos os que te querem bem e por todos os que precisam de ti, alguns em
relações de simbiose, outros em relações parasitárias, mas todos com um
propósito específico.
Acreditas
que todos merecem segundas oportunidades, embora saibas exatamente o custo de cada
nova oportunidade. Sabes que o ser humano é imperfeito e que erra, mas existem
erros que são inevitáveis e outros que são escolhas e, nesses, percebes a falta
de carácter das pessoas. O véu vai caindo lentamente, levando-te ao afastamento
subtil e natural.
Bem lá no fundo
sabes que as pessoas te tentam manipular e que julgam tocar nos teus pontos
fracos, que julgam conhecer-te. Por seres inteligente ainda lhes dá mais gozo a
sensação de controlo. Parvas, diria
eu. Falsa sensação de controlo,
acrescentaria.
És assim,
meio que crente nas pessoas, mas sempre consciente do que lhes dar e até onde,
embora nem elas tenham noção disso. Sabes com o que contar de cada uma mas
continuas a dar, porque gostas de acrescentar e de não ser apenas mais uma
pessoa vulgar e oca.
Bem lá no fundo,
tu sabes que muitas pessoas só te procuram por interesse e por conveniência,
porque têm algo a ganhar contigo. Fingem que se interessam e que gostam de ti.
Dizem-to e tu acreditas! Só depois é que te apercebes que o que é dito é
muito diferente do que é feito e demonstrado. Por vezes sentes-te invisível e
lembrada apenas quando precisam de alguma coisa – conselhos, escuta ativa, favores.
És um depósito de desabafos alheios. E depois? Que recebes? A maior parte das
vezes silêncio e a garantia de que estarás sempre lá. Para ti, está tudo bem porque conheces bem o desfecho de tudo isto.
Sou o teu
coração, conheço-te como ninguém. E por fazer parte de ti, deixa-me dar-te um conselho:
ouve-me. Deixa as racionalizações para os outros, para mais tarde. Tu sabes que
a vida é um risco. Umas vezes acertas, outras falhas redondamente mas, bem lá
no fundo, sabes que mesmo quando falhas, foi devido a uma opção tua. E, de forma direta
e sem vitimizações, aprendes a perdoar-te e voltas à tua essência. Regeneramo-nos os dois. Sabes que nunca volto ao tamanho original, porque tu também me expandes com as tuas experiências.
Embora, por vezes, eu te
cause taquicardia, dor e ataques de nervos, não serias a mesma sem mim.
Um dia eu desaparecerei, mas sei que fui o mentor da tua evolução espiritual.
Do teu
coração.
© Laura Alho
© Laura Alho
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