Carta da tua maior bênção




Meu querido ser pensante, tenho uma série de perguntas difíceis para fazer. Se és ou estás vulnerável, não leias. Mas se fores dos fortes e dos que vive e atua com amor no coração, então desafio-te a ler. Esta é uma carta aberta, de mim, para ti.

E se, de repente, eu te dissesse que não te resta muito tempo de vida?
E se, neste instante, ao fazer-te esta revelação visses todos os teus sonhos comprometidos e interrompidos por uma circunstância aparentemente irónica, que sabes que não acontece por acaso, mas que te faz sentir uma raiva imensa pela injustiça de veres o teu percurso suspenso?
E se, de repente, fosses forçado, por mim, a despedir-te das pessoas que amas e que nunca mais vais poder ver? O que lhes dirias? O que farias nos teus últimos instantes?
E se, de repente, percebesses que aquilo que idealizaste não vai concretizar-se? Que não vais envelhecer junto do teu (atual, potencial ou hipotético) amor, porque já não vais estar cá e ele vai envelhecer sozinho ou com um outro novo amor?
E se, de repente, a alegria de viver se tornar num grito desesperado de raiva, que clama e implora por mais tempo? Mais dez anos, mais cinco anos, mais dois anos, mais um ano, mais uns meses, apenas para teres tempo suficiente para te habituares à ideia de que vais morrer e para tomares medidas necessárias. Que medidas tomarias? Prepararias o teu próprio funeral?
E se, de repente, descobrisses que o tempo que desperdiçaste com coisas fúteis, experiências ocas e supérfluas, é exatamente o tempo que agora te faz falta? Se soubesses que, em breve, terias de deixar tudo o que construíste, que conselhos darias a quem cá fica?
E se, de repente, te ludibriasse e dissesse que poderias voltar atrás no tempo, o que farias de diferente?
Certamente que farias muita coisa diferente. Se acreditas na pseudodemagogia e nas balelas de que tudo o que viveste serviu para chegares onde estás hoje, então os meus parabéns (ou deverei dizer os meus pêsames?). Chegaste a um ponto onde tudo deixou de fazer sentido, porque sentir a proximidade da morte faz alterar tudo o que se pensa que se sabe e, como consequência, o que se sente. Desconstrói dogmas. Com essa sombra sorrateira a aproximar-se as certezas viram dúvidas e o desconhecido gera medo. Só que não te preocupas com ela, porque a imaginas longínqua. E, no entanto, anda lado a lado. Basta chegar a hora dela atuar e nada a impedirá.
Sabes o que é mais importante nesta vida maravilhosa que se torna uma merda quando a sentes esvair-se por entre os dedos? É o amor. Digo-te eu que, mais do que romântica, sou crente que a única energia transformadora é o amor. Tenho os meus demónios, também, mas nenhum deles é mais forte do que eu. O amor é a única coisa que dá sentido à vida, mesmo na hora da morte. Não é o império que constróis, não é a imagem que crias a todo o custo, não é a riqueza e a ostentação de uma vida que não te pertence… Nada neste mundo te pertence. És matéria, és energia. Quando desapareceres, voltas ao cosmos e tudo o que alcançaste fica aqui. A única coisa que permanece intacta é o amor.
Se te dissesse que amanhã era o teu último dia de vida, não deverias perder o teu tempo a fazer testamentos, mas a dizer às pessoas a importância que elas têm para ti. O teu erro é pensar que as pessoas sabem o que sentes por elas. Podem saber, mas nunca é demais lembrar e demonstrar.
Se, de repente, soubesses que ias ser privado desta bênção maravilhosa que é estar vivo, o que te causaria algum conforto era saber que ias ter, até à tua última expiração, alguém que te ama verdadeiramente. Que chorará por ti, que sentirá a tua falta e que jamais fará com que morras no coração das pessoas.

Se depois deste valente susto, eu te dissesse que, afinal, ainda tens muitos anos pela frente, mudaria alguma coisa na tua forma de pensar?
O que queres realmente viver? Que memórias queres criar? Que memórias queres deixar nas pessoas? Quem é que vale realmente a pena, ser pensante?
AMA! Não tenhas medo do incerto, não tenhas medo de sofrer. Não arranjes pretextos para permaneceres num estado de limbo que perde o interesse e afasta as pessoas que te querem bem e que te querem para passarem mais do que uns simples momentos. Não tragas as experiências e mágoas do passado para justificar os teus comportamentos. Isso são histórias da Carochinha e perdas de tempo. Não te vitimizes se não deu certo antes porque, na verdade, tens responsabilidade nisso.

Se até agora nenhuma relação valeu o risco, não culpes o amor. O amor não tem nada a ver com as nossas falhas e erros. O amor é puramente um sentimento que te faz evoluir. Se achas que não há amor onde estás, então não te demores. Se ele já não é correspondido e não tem mais forma de ser recuperado, a alternativa é fazer o luto da relação (não do amor) e lidar com a saudade. Ele irá manifestar-se quando menos esperares.
VIVE o amor na sua plenitude. Não o sufoques nem o desrespeites porque, quando a tua hora chegar, esse é verdadeiramente o único legado que vais deixar.
Ainda que não me ames e me aches sarcástica e, por vezes, acutilante, estou aqui para o que precisares, porque sou única, porque continuo a querer o teu bem e a importar-me com o que fazes. Mas especialmente, porque vou acompanhar-te até ao fim. Mas não me faças perder o meu tempo. Sê alguém de valor, não de fachada, mas de verdade! Sê a pessoa completa, digna, respeitadora e amável que também queres ter ao teu lado. Só depende de ti seres feliz. Só depende de ti ser ou não esse alguém maravilhoso que acrescentará felicidade na vida de outro alguém e na tua própria vida.
Acredita em mim. O relógio não para. Pode não ser amanhã, mas o teu dia chegará. E eu quero que tu me ames e me aproveites bem.

Da tua maior bênção,
A Vida.

© Laura Alho

Comentários

Unknown disse…
Parabens,excelente e pertinente divagação sobre a "força" da Vida e o seu melhor fermemto o "Amor"
Para um pragmatico,hiperracionalista,provoca um expansão positiva na rigidez
dos meus preconceitos.Uma pergunta pergunta dum minimalista preguiçoso:o que é o "amor"?
Anónimo disse…
Parabens,excelente e pertinente divagação sobre a "força" da Vida e o seu melhor fermemto o "Amor"
Para um pragmatico,hiperracionalista,provoca um expansão positiva na rigidez
dos meus preconceitos.Uma pergunta pergunta dum minimalista preguiçoso:o que é o "amor"?

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