Há dons que não vale a pena ter: o da mentira é um deles.


Há pessoas que têm o dom da mentira. Mentem tão subtil e naturalmente como se se tratasse de uma simples inspiração ou expiração. É automático. Têm desculpas para tudo e conseguem mentir a várias pessoas ao mesmo tempo, usando versões parecidas para não enganar a própria memória. Exige esforço, mas é encarado quase como um desafio. Há outras pessoas que têm o dom de descobrir as mentiras sem esforço: um acaso, uma contradição, inteligência e perspicácia aguçada, uma ironia do universo, uma passagem à hora errada no lugar errado, um comentário infeliz. Talvez os abençoados sejam os que nunca descobrem nada.

Onde a mentira habita, não há espaço para a verdade, confiança, amor e respeito. Nessa habitação de fachada só há espaço para uma única pessoa: a que pensa deter um talento intrínseco que a levará a conquistar o que, e quem, bem entender, como se tudo fosse descartável e houvesse uma lista infindável por descobrir. Que lista, seus ambrósios? A vida não é feita de listas, é feita de escolhas e de consequências. Na verdade, este tipo de pessoas, pseudo-inteligentes e emocionalmente vulneráveis (mas que apregoam ser seguras de si), acabará inevitavelmente sozinha. Com imensas pessoas ao seu redor, mas sem ninguém de valor ao lado.

 Parece que, afinal, há dons que não vale a pena ter.

 © Laura Alho

Comentários

Mensagens populares