Conversas Informadas: Psicólogo ou Psiquiatra? Por vezes, ambos.


A principal diferença entre um psicólogo e um psiquiatra é que o segundo é médico, podendo prescrever medicação. Isto significa que, a nível formativo, existem diferenças substanciais entre as duas categorias de profissionais e existem também algumas sobreposições. Desde que a Psicologia se tem vindo a firmar como uma ciência, a abrangência e a profundidade de conhecimentos para a explicação do comportamento humano e o desenvolvimento de psicopatologias tem vindo a ser uma preocupação e uma necessidade constante. Há umas décadas atrás era impensável existirem unidades curriculares como anatomia e fisiologia, matemática, laboratório de processamento de sinal, biologia, genética, bioquímica, entre outras, dentro de um curso tradicional de psicologia. Hoje em dia é uma realidade e, inclusivamente, em alguns países os psicólogos são considerados "engenheiros comportamentais".
Além dos exemplos anteriormente mencionados, a integração de unidades curriculares novas e que dão ferramentas para a produção de conhecimento científico, não só permite desenvolver competências importantes no exercício da profissão, como facilita a integração do psicólogo em equipas multidisciplinares (e.g., na saúde, no desenvolvimento de tecnologia, na ergonomia, no meio empresarial). Ainda que a realidade acerca do bom funcionamento das equipas multidisciplinares esteja muito aquém do desejável, não se pode negligenciar o bom funcionamento de algumas equipas, que integram psicólogos e psiquiatras, no tratamento holístico do indivíduo.
Mas então, a quem deve recorrer quando está a atravessar uma fase mais complicada da sua vida e precisa de acompanhamento? 
Ambos têm competências para tratar da sua saúde mental, mas antes de tomar a sua decisão, deve ter conhecimento do seguinte:
O psiquiatra é um médico especialista que conhece bem o funcionamento do cérebro e todas as coisas que podem acontecer e alterar o seu funcionamento normal, tendo uma formação extensiva em biologia e neuroquímica.  Diagnosticam e tratam (com medicação) as perturbações mentais, particularmente as de origem interna. Algumas pessoas que apresentem sintomas, por exemplo, de ansiedade ou que não consigam dormir, vão imediatamente ao psiquiatra, com o objetivo de obterem medicação imediata.
O psicólogo conhece bem as dinâmicas comportamentais, os mecanismos psicológicos, as estratégias a usar e quais as melhores abordagens para cada indivíduo. Acresce ainda que os psicólogos são os únicos que podem aplicar testes psicológicos (avaliação psicológica) e, a partir daí, definir uma intervenção com o indivíduo. 
Quem procura um psiquiatra sabe que este vai estar exclusivamente centrado nos sintomas que o indivíduo relata. Embora possa conversar com paciente, não tem conhecimento especializado de como alterar comportamentos. Por isso é que, muitas vezes, o paciente acaba por melhorar dos sintomas, mas continua a não saber resolver problemas, a lidar com determinadas situações ou a sentir-se completamente bem. Isto acontece porque a medicação não contempla a história de vida do indivíduo, age diretamente sobre a química cerebral. São muitos os casos em que a medicação não é suficiente, sendo útil a intervenção do psicólogo para ajudar a pessoa a reformular-se, a conhecer-se. Por outro lado, os medicamentos administrados por um psiquiatra podem ser fundamentais e imprescindíveis, para que o individuo estabilize e possa beneficiar de psicoterapia. Daí que, em muitos casos seja recomendável o acompanhamento do indivíduo pelos dois profissionais. Há perturbações que têm origem endógena e têm impacto psicológico, e há outras em que a parte psicológica vai ter influência no organismo do indivíduo. 
Quem procura um psicólogo sabe que não precisa de ter uma perturbação mental para beneficiar dos seus serviços. Se estiver com algum problema na vida pessoal que o faça sentir-se angustiado, ansioso, ou que esteja com dificuldade em resolvê-lo sozinho, o psicólogo ajudá-lo-á. Assim como poderá ajudá-lo a potenciar as suas competências de forma a incrementar o seu bem-estar e aumentar a sua qualidade de vida. A ideia de que quem vai ao psicólogo ou ao psiquiatra é maluquinho, já está mais do que ultrapassada (ou deveria!).
Em suma, a psicologia e a psiquiatria são áreas que se completam e trabalham juntas no desenvolvimento da pessoa. Um mau psicólogo acha que a psicoterapia resolve tudo e que o psiquiatra "droga" o paciente, e um mau psiquiatra diz que a psicoterapia é só conversa da treta que não resolve nada. O profissional capacitado, seja ele psicólogo ou psiquiatra, saberá quando deve encaminhar para um ou para o outro. E uma das competências de ambos é a de perceberem se o indivíduo que está a sua frente necessita ou não da sua ajuda.

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