A vida continua a acontecer, mesmo quando tudo em nós parece parar.



A vida continua a acontecer, mesmo quando tudo em nós parece parar. O mundo continua a girar, mesmo quando o nosso acabou de morrer. A felicidade continua a existir no coração das pessoas, mesmo quando no nosso só há pó e desesperança. E, ao continuar sem nós, com o nosso ritmo interrompido e o coração desfeito, o universo parece provar-nos o quão insignificantes somos. Mas é tudo uma questão de perspetiva. Enquanto o nosso ego prefere vitimizar-se e acha que somos insignificantes, por nada parar para chorar connosco as nossas dores, o universo mostra-nos que, independentemente da quedas, tudo continua a existir, inclusive nós. Os momentos maus parecem abrandar-nos, ou estagnar-nos, mas o tempo continua a passar no mesmo ritmo. A desesperança parece atrasar-nos em relação ao futuro, mas o tic-tac avança ininterruptamente.
Os anos passam a acumulam-se e há coisas que parecem inalteráveis. Agimos de uma determinada forma a pensar que é o melhor que estamos a fazer, por nós e pelos outros, e se calhar estamos a bloquear possibilidades. Reservamo-nos num cantinho à espera de milagres e questionamo-nos se eles realmente existem, ou se o único milagre é estarmos vivos. Dizem que tudo tem um tempo certo, e se não aconteceu é porque não chegou a hora. E quando é o tempo certo, de verdade? Estaremos atentos ou já nos habituámos a uma rotina que nos impede de ver que o momento chegou? Ou estamos tão desacreditados que achamos que já passou e não há nada a fazer? Que a felicidade foi uma experiência única e irrepetível? Quantas vezes nos remetemos ao silêncio, julgando que é o melhor que temos a fazer? E quantas vezes esperamos algum sinal das outras pessoas, alguma mudança, mas nada parece acontecer e achamos que o problema talvez seja nosso? E por que razão nos custa tanto dar o braço a torcer e reconhecer que errámos? De forma análoga, por que razão continuamos a ter mágoas no coração que falam mais alto e nos tornam tão orgulhosos no presente? Porque custa tanto perdoar os outros e perdoarmo-nos também?
Chego a conclusão que perdi anos da minha vida a tentar viver sem olhar para trás, sem guardar mágoas e apenas coisas boas no coração. Tentei, posso dizê-lo, mas não passou disso. Hoje sei que a pessoa a quem mais devo perdoar é a mim própria pelos erros que cometi e ainda cometo, apegada a ideias que também não passam disso. A vida continua a acontecer e acontece naturalmente, quer eu goste ou não dos resultados. Os capítulos continuam a suceder-se e ainda nem sequer concluí esta história e ponho-me a pensar na que virá depois desta existência, desejando que o meu ADN leve algumas lições e que não perca tanto tempo à procura de respostas.
Viver parece tão simples… Será, de verdade? No fundo, acredito que sim. Só não temos ainda o manual de (sobre)vivência atualizado. E também acredito que as ligações que fazemos com pessoas que nos são especiais, são eternas. Parece que independentemente da distância e dos anos que se acumulam, tudo permanece vivo nas nossas células.
Enquanto deciframos o mistério que é a vida, celebremos o facto de estarmos vivos. E deixemos a vida acontecer, de preferência, acompanhando-a e não apenas vendo-a passar, como expectadores. Mais ninguém pode assumir o papel principal senão nós. Somos protagonistas da história que escolhermos viver, seja um bom ou um mau argumento.

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