Está na hora de florescer. Outra vez.



Aceito a minha cegueira. Aceito que escolhi ver o que quis ver, durante muito tempo. Aceito que adornei muita coisa que, na realidade, não tem adornação possível. Aceito que criei cenários imaginários, sem qualquer projeção na realidade. Quis ver coisas inexistentes. Criei possibilidades que só existiam na minha cabeça, por teimosia. Fiz escolhas dúbias. Lutei pelos objetivos certos, com os meios e as pessoas erradas. Fingi que tudo estava bem, para ultrapassar os momentos e alimentar a esperança - essa coisa viscosa que me motiva a seguir em frente, fazendo-me chegar a desfechos que podem não ser os que idealizei, mas que me trazem sempre lições para a vida. Escolhi o caminho mais sofrido. O sofrimento foi quase uma segunda pele, um segundo idioma. Mas, finalmente, aceitei que não faz parte de mim. É um visitante temporário que fica o tempo que eu lhe permito ficar.
Aceito as minhas falhas. Aceito todas as minhas imperfeições enquanto ser humano e tenho consciência delas. Algumas provavelmente acompanhar-me-ão até ao fim da minha jornada, outras darão lugar a algo mais polido e adaptado. Mas não há amor maior do que o meu, por mim própria. Parta quem partir, venha quem vier.
Aceito que não posso agradar a todos, porque isso seria perder a minha identidade e seria o maior erro de todos. Agrado alguns e são esses que estão por perto. 
Aceito que não posso mudar as pessoas, mesmo que sejam próximas de mim, especialmente essas. Cada um tem o seu caminho e, por mais que discorde dele, não é o meu. Só se pode mudar quando se tem vontade de mudar. A vontade dos outros é a dos outros. E a minha, é latejante. A minha hora chegou. A vida é demasiado efémera e sinto que já perdi tempo demais a fazer rascunhos. Não há tempo para isso, porque a qualquer instante, tudo nos foge. Vida e morte coexistem a cada segundo.
Aceito que as pessoas não me possam dar aquilo que eu lhes dou. Doei-me. E doeu-me. O velho ditado "cada um tem o que merece" é uma luva perfeita nos nossos dedos. Temos o que achamos que merecemos, e se temos a mediocridade é porque a aceitamos. Não a quero, mereço mais.
Aceito não ter sabido agir no momento certo e não ter dito o que havia para ser dito. Não há arrependimento, nem culpa. Na altura não era quem sou hoje, e não sou hoje quem serei amanhã. Tudo tem um tempo certo para acontecer, e há coisas que já não acontecem mais.
Aceito todas as minhas vulnerabilidades e abandono hoje toda a bagagem de peso morto desnecessário que carreguei durante muito tempo, por mim e pelos outros, sobretudo daqueles a quem dei importância, mas não a recebi de volta. Agradeço ao tempo por me fazer ver o que realmente importa, e quem realmente importa. Está na hora de fazer limpezas e de fazer as pazes. Está na hora de florescer, outra vez, e de fechar capítulos e escrever novas histórias. E está tudo bem. 

Comentários

Anónimo disse…
Bolas... identifiquei-me... mas ainda não consegui libertar toda a bagagem que me causa dificuldade em seguir em frente. Continuarei a tentar me libertar! 😘

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